Por Ariane Costa Gomes, da Agência Mural*
Time criado por morador tem dez anos de história e cerca de 65 jogadores
Em um campo de terra e com grama falhada um grupo de aproximadamente 30 pessoas se reúne todos os sábados à tarde para jogar futebol americano, em Osasco, na Grande São Paulo. Fundado há dez anos, o Soldiers é o único time da modalidade da cidade. A ideia de sua formação veio quando César Augusto dos Santos, 34, morador local, decidiu praticar o esporte, mas percebeu que não havia onde treinar por perto. “Sempre gostei e queria jogar. Como gosto muito da cidade, percebi que tínhamos capacidade para ter um time e o criei”, conta o fundador e presidente.
Atualmente, o Soldiers tem cerca de 65 jogadores. Os treinos acontecem aos sábados, das 12h às 15h, no campo da Vila Osasco e reúne cerca de 30 atletas por semana. Campeã este ano do Galpão da Luz Bowl, competição realizada em Itaquera, na zona leste da capital paulista, a equipe enfrenta obstáculos peculiares ao esporte. “Praticar algo que não aprendemos a gostar quando somos crianças no Brasil, ter um espaço para treinar, sermos vistos como atletas e conseguir parcerias são alguns dos desafios”, enumera Santos.
O apoio da Prefeitura de Osasco é, segundo o presidente, apenas a concessão do campo, documentada por um ofício renovado a cada três meses. No local, não há postes de iluminação e nem demarcações próprias pintadas no chão de terra. A grama é insuficiente para preencher sua extensão.
Mesmo com todas estas barreiras, o Soldiers tem muito o que comemorar. Em 2018, a equipe ficou em quarto lugar no campeonato de Flag da Federação de Futebol Americano de São Paulo (FEFASP). O Flag é uma modalidade do esporte que possui menos contato físico. Os jogadores utilizam um cinto com duas flags (fitas) presas nas laterais. Ao invés de derrubar o adversário, a equipe defensora deve tirar uma das “flags” do jogador que está com a bola para interromper o ataque. Para o fundador do time, outra conquista é ver que o Soldiers serviu como base para jogadores de diferentes times de São Paulo.
A estudante de veterinária Gabrielle Jesus Vital, 17, uma das três meninas da equipe mista, faz parte do time há três anos e meio. “Minha prima jogava aqui com uma amiga e me convidou. Por ser um esporte diferenciado, principalmente para as mulheres, quando jogo sinto que sou respeitada e tratada com igualdade pelos outros jogadores”, afirma.
Um dos veteranos, o professor de muay thai Marcio José Onorato, 39, está há sete anos na equipe e não pensa em parar de jogar tão cedo. “O que me motiva a jogar, além da chance de competir e treinar, é a minha família. Meus filhos amam me ver jogando”, conta o morador de Carapicuíba.
Para os próximos cinco anos, o time planeja voltar a ter três categorias. As modalidades feminina e equipada foram desfeitas porque o treino sofreu uma redução de três horas do horário de utilização do campo. O Soldiers permanece com o time de Flag e um dos planos é montar uma escola de formação. Para fazer parte do Soldiers é preciso entrar em contato com a equipe pelas redes sociais ou pessoalmente durante os treinos.
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*Série de reportagens produzida pela Agência Mural de Jornalismo das Periferias, que tem como missão minimizar as lacunas de informação e contribuir para a desconstrução de estereótipos sobre as periferias da Grande São Paulo.